Considerações filosóficas sobre o cânone literário e o ensino de literatura

Autores

  • Paulo Eduardo de Barros Veiga Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Filosofia da literatura, Ensino de literatura, Cânone literário, Indústria da Cultura.

Resumo

Levantam-se reflexões e posicionamentos sobre a natureza do cânone literário, a partir de uma bibliografia embasada em poetas e escritores, como Ezra Pound, Leão Tolstói, Vladimir Nabokov e Italo Calvino, sem dispensar a filosofia kantiana, heideggeriana, o pensamento de Adorno e Horkheimer e os estudos de Bakhtin. Nesse sentido, propondo uma filosofia da literatura, este texto abarca uma série de ideias a respeito do cânone cuja síntese expressa-se na asserção de que, como um referencial artístico-filosófico, o cânone compõe-se da maioridade do pensamento essencial com que se pode dialogar, sendo-lhe, pois, uma fonte autêntica e inexaurível, de sumo interesse à educação, haja vista seu caráter paidêutico (παιδευτικός), sem que se reduza o cânone a essa finalidade. Por fim, de discussão necessária, consideram-se as diferenças entre as obras artísticas e a indústria da cultura (kulturindustrie), cuja indistinção não concorre ao desenvolvimento do conhecimento metafórico-sensorial e do espírito crítico-filosófico, em prejuízo, novamente, à educação e às artes.

Biografia do Autor

Paulo Eduardo de Barros Veiga, Universidade de São Paulo

Paulo Veiga é pós-doutorando do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (DM-FFCLRP), da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa concedida pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), sob supervisão do Prof. Dr. Rubens Russomanno Ricciardi. Nesse momento, dedica-se ao estudo epistemológico de textos latinos da Idade Média sobre Teoria Musical. Fez o doutorado em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr), sob orientação do Prof. Dr. Márcio Thamos, com quem fez, também, o mestrado, na mesma faculdade. Neste período, recebeu apoio da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e foi contemplado pelo Programa ELAP (Emerging Leaders in the Americas Program) do governo canadense, tendo estudado na University of Winnipeg, província de Manitoba. No Doutorado, voltou-se ao estudo de Poética, Mitologia e Tradução, analisando hexâmetros de Ovídio sobre a Cosmogonia. No Mestrado, desenvolveu pesquisa acerca de Tradução e Crítica Literária, comparando versos de Virgílio e Ovídio sobre o mito de Orfeu e Eurídice. Possui graduação em Letras (Licenciatura e Bacharelado em Português e em Latim) também pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr). Em âmbito de Iniciação Científica, produziu relatórios departamentais sobre Ensino de Latim e sobre Poética e Tradução, com foco em língua e literatura latinas. Já foi professor do curso de Letras (Licenciatura em Português e em Inglês) do Centro Universitário Moura Lacerda (CML), unidade sede, e do Centro Universitário Barão de Mauá (CBM), onde também foi editor da Revista Vocábulo, dentre outras funções; ambos localizados em Ribeirão Preto (SP). Como experiência pessoal, viveu em Londres (Reino Unido), de 2011 a 2012, onde frequentou a instituição Princes College, voltada ao estudo da língua inglesa. Atualmente é sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC) e participa do Grupo de Pesquisa LINCEU - Visões da Antiguidade Clássica (cadastrado na base dos Grupos de Pesquisa/CNPq), do Grupo PoMA - Poética e Métrica na Antiguidade, do Grupo de Pesquisa do CNPQ/USP - Entre gramática e retórica grega e latina, e do Núcleo de Pesquisa em Ciências da Performance em Música (NAP-CIPEM). Quanto à produção artístico-musical, atua como violinista na USP Filarmônica e na Oficina Experimental da USP, executando tanto obras do século XVII quanto composições contemporâneas.

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Publicado

2021-12-23

Edição

Seção

Fluxo contínuo