A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus: Pode Uma Mulher Negra Ser Autor?

Autores

  • Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP)
  • Soraya M. R. Pacífico Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Escrita, Autoria, Literatura.

Resumo

A partir dos fundamentos da Análise do Discurso francesa, construída por Michel Pêcheux,  este artigo pretende analisar o funcionamento da política literária que legitima e/ou interdita a escrita de certas autoras de literatura, nesse caso, destaca-se a escrita de Carolina Maria de Jesus que deve ser reconhecida como resistência de mulher, negra, pobre, favelada, semialfabetizada que, a partir de suas obras discursiviza sobre a infância de “menina atrevida” que questionava os adultos; na vida adulta, a “mulher exibida” que escreve. Deste modo, o objetivo desse trabalho é investigar o modo como a política literária funciona legitimando e/ou interditando a escrita dessa escritora, em especial, em relação a sua primeira obra, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960, em relação a aceitação (ou não) dos críticos, suscitando os seguintes questionamentos: quem tem o direito a ser autor de literatura? A literatura de autoria de mulheres negras é discutida e reconhecida na escola? Se o discurso é poder, logo, a escrita de Carolina é um ato político (FREIRE, 2018), já que rompe com uma formação imaginária de autor (branco, classe média, com alto grau de letramento, intelectual e gramaticalizado) portanto, a escola tem o papel de levar para dentro da sala de aula a discussão sobre a legitimação e a interdição da política literária que funciona impedindo (ou não) a circulação das literaturas, nesse caso, a de autoria de mulheres negras, visto que a autorização do dizer, por sua vez da escrita e da posição sujeito-autor, implicam questões sócio-histórico-ideológicas em que político afeta o campo da literatura.

Biografia do Autor

Michel Luís da Cruz Ramos Leandro, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP)

Mestrando em Educação pela Unievrsidade de São Paulo. Graduado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava e Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo.

Soraya M. R. Pacífico, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo

Possui graduação em Letras pela Faculdade de Educação São Luís (1986); Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras Júlio de Mesquita Filho/UNESP (1996); Doutorado em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP, (2002) e Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências e Letras Júlio de Mesquita Filho/UNESP (2013). Atualmente, é professora associada da Universidade de São Paulo. É líder do grupo de pesquisa GEDISME - Discurso e Memória: movimentos do Sujeito, filiado à Universidade de São Paulo e cadastrado junto ao Diretório de Grupos do CNPq. É membro do Grupo de Estudos de Linguagem, Argumentação e Discurso ? ELAD/CNPq. Tem experiência na área de Linguística, com pesquisas fundamentadas na Análise do Discurso pecheuxtiana, investigando, principalmente, os seguintes temas: autoria, argumentação, leitura, escrita e letramento. Supervisiona estágios curriculares no curso de Pedagogia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP.

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Publicado

2019-12-20

Edição

Seção

Artigos Científicos